Geraldo Jorge: resistência, persistência e arte

Há mais de 40 anos ele vem formando atores e atrizes, além de despertar o interesse pelas artes em centenas de jovens que passaram e ainda passam por suas oficinas gratuitas, aos sábados, no teatro Lima Penante, em João Pessoa. Geraldo Jorge, diretor de teatro, incansável idealizador e realizador do teatro paraibano, está prestes a colocar no mercado mais uma leva de artistas que, com certeza, estão dando apenas o primeiro passo de uma longa estrada no palco ou nos bastidores do teatro.

Em sua história, Geraldo Jorge dedica nada menos do que 43 anos de sua vida à montagens ininterruptas de trabalhos infantis para o teatro paraibano, sem contar as montagens para o público adulto que também fazem parte do currículo do Grupo Tenda. “É um trabalho difícil de ser realizado nos dias de hoje, principalmente pelo fato de que as pessoas não encontram mais tempo para ensaios e reuniões de grupos de teatro. Um dos grandes problemas que enfrentamos é a falta de compromisso das pessoas com o teatro. Muitos começam a fazer uma oficina e até mesmo a ensaiar uma peça, mas depois deixa de comparecer e nem avisam. Isso é desestimulante, mas nós estamos resistindo e fazendo teatro com aqueles que acreditam na arte de representar”, disse o diretor.

Resistindo à falta de compromisso ou ao desinteresse de muitos pelo teatro, Geraldo Jorge segue mantendo todos os anos uma Oficina Básica de Teatro gratuita na cidade de João Pessoa. A oficina acontece todos os sábados em uma das salas cedidas ao Grupo Tenda no Teatro Lima Penante (Av. João Machado, ao lado da Igreja de Lourdes). Qualquer pessoa, de qualquer sexo, religião, time de futebol ou idade, pode participar das aulas que são ministradas por atores mais experientes que já passaram ou que ainda estão no Grupo Tenda. “É um trabalho constante, ininterrupto, que tem aberto oportunidade para muitas pessoas que querem entrar para o meio artístico”, ressalta.

É com esse trabalho de “formiguinha” que Geraldo Jorge vem escrevendo seu nome no hall das personalidades paraibanas. Daquelas pessoas que dedicam sua vida em prol da arte, abrindo portas para aqueles que querem apenas uma oportunidade e não sabem – ou não sabiam – onde encontrar. A formação de novos atores pelo Grupo Tenda já é uma tradição no teatro paraibano e foi através da porta aberta por Geraldo que muitos artistas paraibanos chegaram a alcançar o sucesso e se mantêm até hoje no mundo das artes.

QUE É GERALDO JORGE

A carreira artística de Geraldo Jorge começou em 1966 no Grupo de Teatro da Sociedade Cultural de João Pessoa, que viria a ser extinto pouco tempo depois. Para Geraldo, as recordações do primeiro grupo são inevitáveis. Os ensaios eram realizados ao lado da igreja, onde funcionava o Centro Social Santa Júlia. A primeira peça na qual trabalhou foi “A Farsa do Corregedor”, do espanhol Alejandro Casona, dirigida por Expedito Pereira Gomes.

A necessidade de ter uma formação acadêmica afastou Geraldo Jorge dos palcos por algum tempo. Era chegada a hora de se dedicar aos estudos ou, pelo menos, dividir as atenções entre o teatro e a Universidade. Geraldo se formou em Geografia pela Universidade Federal da Paraíba e passou a lecionar a disciplina no mais tradicional colégio de João Pessoa: o Lyceu Paraibano.

A retomada de uma carreira artística promissora se daria em 1972, quando da criação do Grupo Tenda ao lado do amigo e diretor Leonardo Nóbrega. A primeira peça montada pelo Tenda foi “Tempestade em Água Benta”. O segundo trabalho foi a montagem de um texto escrito pelo próprio Geraldo: a comédia “A Viúva e o Lobisomen”.  Foi justamente com criação de “A Viúva e o Lobisomen” que o diretor revelou também seus dotes de autor.

Dentre as peças infantis, o Tenda montou espetáculos de sucesso como “O Sapateiro do Rei”, “Os Meninos da Minha Rua”, “As Ruínas do Rei Solimão”, “A Cigarra e a Formiga”, “Perdidos na Floresta Beleléu”, “O Gato de Botas” e “Ali Ladrão e os 40 Babás”, este último com texto do próprio Geraldo. Ao longo dos últimos 40 anos de teatro, Geraldo Jorge se transformou numa verdadeira escola para muitos atores paraibanos. É dele o texto e a primeira montagem do maior sucesso de bilheteria do teatro paraibano: o “Pastoril Profano”.

Reportagem: Augusto Magalhães